A influência do cinema na cultura brasileira e a importância de preservá-lo

À cima, um projetor Cinemeccanica Victoria 5 de 1975 e, à baixo, um projetor Barco DP2K-20C, de 2014

Fotos: Vitor Miguel

O cinema é uma das formas mais poderosas de expressão cultural, refletindo a identidade, a história e a diversidade de um país, algo especialmente relevante em uma nação tão plural quanto o Brasil, conhecido como um verdadeiro “melting pot” cultural. No entanto, nos últimos anos, o mercado cinematográfico brasileiro tem sido cada vez mais dominado por produções internacionais. De acordo com a Ancine, em 2022, a taxa de ocupação dos cinemas nacionais por filmes brasileiros foi de apenas 1,8%. Além disso, dados da Associação Brasileira das Empresas Cinematográficas (Abraplex) e da Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas (Feneec) indicam que, no primeiro trimestre de 2024, apenas 5% dos ingressos vendidos em todo o país foram para produções nacionais.

Diante desse cenário, medidas protetivas como a Lei de Cotas de Tela e a Lei do Audiovisual ganham importância crucial para a preservação e fortalecimento do setor. Essas políticas vão além do aspecto mercadológico, atuando também como instrumentos para conservar a memória coletiva brasileira e valorizar a diversidade cultural expressa no cinema nacional. Com isso, o crítico e pesquisador de cinema, Pedro Butcher também destaca a importância de haver uma ampla diversidade de produções brasileiras, seja de gêneros ou de formatos:

Junto com isso, é importante lembrar que a história do cinema brasileiro é marcada por obras que definiram gerações e influenciaram profundamente a cultura do país. Contudo, muitos desses clássicos correm o risco de se perder devido à falta de políticas efetivas de preservação. A restauração e a digitalização de filmes antigos são fundamentais para garantir que esse legado continue acessível às futuras gerações.

Instituições como a Cinemateca Brasileira, a qual possui o maior acervo audiovisual da América do Sul, desempenham um papel vital nesse processo de conservação, mas enfrentam desafios significativos relacionados ao financiamento e à gestão, o que reforça a necessidade de apoio constante e investimento público para assegurar a proteção do patrimônio audiovisual nacional. Casos como o incêndio de 2021 que atingiu parte do acervo da Cinemateca Brasileira, localizada em São Paulo, reforçam a urgência desses investimentos.

Cinemateca do Museu de Artes Modernas do Rio Foto: Vitor Miguel

Com isso, José Quental, Coordenador de Cinema na Cinemateca do MAM-RJ, destaca como o trabalho destes tipos de instituições “nunca acaba”, trazendo consigo uma amplitude de dificuldades: “São grandes desafios na preservação, porque ela é algo que precisa ser feito de forma constante, ela não pode parar. Um trabalho de preservação, ele está sempre em processo. Você pode ter interrupções, acidentes ficam mais fáceis de acontecer, podem acontecer tragédias. Também pode ter interrupção de financiamento”.

Além disso, José também destaca como, hoje em dia, a preservação deste tipo de cinema encara desafios relacionados à crise climática, declarando que estes locais precisam estar evoluindo constantemente para realizarem os seus trabalhos. Ele conclui afirmando que uma das principais funções destas organizações e, ao mesmo tempo, devido aos obstáculos citados, uma das maiores dificuldades que elas enfrentam, é estarem preparadas para preservar aquilo que “já foi feito, que está sendo feito e que será feito”.

Apesar destes problemas, é preciso se ter em mente que, em sua função mais central, o cinema, mais do que uma forma de entretenimento, é um poderoso marcador identitário nacional. Por meio das telonas, é possível projetar as diferentes histórias, valores, conflitos, sotaques e paisagens que compõem o país, permitindo que o público reconheça e compreenda sua pluralidade. Juntando isso com o fato do Brasil possuir uma diversidade cultural imensa, essa função de espelhar a complexidade da sociedade brasileira ganha ainda mais relevância.

É a partir disto que Leonardo Edde, atual presidente da RioFilme destaca como a importância do cinema passa pela sua capacidade de agir como uma ferramenta não só de comunicação, como, também, de influência na capacidade questionadora da sociedade:

Além disso, o cinema também é um meio de projeção internacional da identidade brasileira. Produções que alcançam destaque fora do país, como mais recentemente, “Ainda Estou Aqui”, contribuem para construir uma imagem cultural do Brasil no exterior, revelando ao mundo muito mais do que os estereótipos frequentemente associados à ele. Portanto, ao valorizar e investir na cinematografia, inclusive por meio de medidas como a Lei de Cotas de Tela, há um fortalecimento da autonomia cultural brasileira e, ao mesmo tempo, a reafirmação de sua capacidade de contar suas próprias narrativas, com autenticidade e a partir de olhares brasileiros.

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O impacto da lei no mercado de trabalho cinematográfico